Wednesday, June 14, 2006

A Torre


No deserto, no vazio, inabitada e ancestral
Deu luzes ao meu silêncio
Debruçado em suas estátuas recordei-me dos afagos de outrora
O cheiro funesto e secular me inebriou

No topo do imponente ícone, o vento forte desafiava
Podia ver o mundo todo, nosso mundo interior
Desolei a noite com lamentos
Mundo coletivo em mim, aqui repensei toda a existência

Corredores sem voz, cheiro de solidão e miséria
Como há muitos janeiros deixei de sonhar
As janelas da minha fronte vêem, apenas rostos sem face
Morrerei confinado aqui, serei a poeira destes pavimentos

Torre no deserto
Refúgio de almas errantes
Lágrimas e mágoas pungentes
Terra inóspita e sem nome molda meu semblante

Vivendo de lembranças atrozes
Perseguido pela consciência sagaz
Sou a sombra de um velho sorriso
Que ainda insiste em viver

Do céu e da chuva


A mesma chuva que molha a terra
Um dia na terra adormeceu
O mesmo espírito um dia conformado
Hoje clama pelo alto

A mente fez-se sua juíza

Então o mundo pequeno ficou
O tempo que um dia viveu da paz
Hoje tresloucado se perdeu

Consigo leva e traz gente
Céu , chuva e vento
Infância perdida no passado
Lágrimas e sorrisos secaram naquele tempo

O outrora é o pai da saudade
Chorar seria a solução ?
Quem me dera a vida fosse estática
Viver somente de ilusão

Tuesday, June 13, 2006

Processo de absorção


Viro as costas para a vida
Um novo horizonte espera por mim
Caminhando contra o mundo
Colhendo os frutos nessa trilha
Sigo saciando minha fome
Aprendiz da insanidade terrena

Torrentes de mentira e ilusão
Conduzem o dito futuro promissor
À fronte dos seres viventes
Rostos esquálidos, de valores ilusórios
Peças no jogo da vida

Vou me fundindo à materia
Matando dia após dia
A criança interior
Não há esperança
Não há mais flores nos nossos jardins
Irá o mal vencer ?

As Multifaces


Descobri em você
Um novo eu
Posso esperar pelo infinito
Em cada rosto uma nova porta

Em cada mundo , um novo mundo
Mundo meu
Em você eu descubro a mim
Descortino meus anjos e demônios

Sinto o sabor da miséria
Vejo tambem os aplausos
De gente simples
Gente como a gente

Partículas de mim
Em cada um de todos nós
Vejo a mim mesmo
Em cada uma de, milhares de falas e gestos

Meu ego , nasceu dentro de todos
Já posso esperar
posso encontrar
Todas as respostas
Espelhos e mais espelhos eu vejo
Clones meus em todo lugar

01/12/2003

O melhor dos inimigos


Levado como folha pelo vento
Levado pela vida e pelo tempo
Vítima da transformação
Imensidão de sentimentos

Dono deste pobre mundo
Visionário nas alturas
Rosto sem face enfadado de paixões
Vagabundo das multidões

No coração uma jóia
Uma mente de diversidades
Palácio sem portas nos confins da terra
Mundo interno em constante guerra

O melhor amigo, sábio conhecedor
Companheiro a todo instante
Oferta o gozo e a impiedade
O repúdio e a saudade

Deste mundo nada sei, as pessoas são de plástico
Enfim vejo o amor ... somente uma miragem
Não se pode fugir, da verdade e seu desfecho
O bem e o mal de novo eu vejo
Meu amigo no espelho

Ode ao Passado



Forte rocha
Incólume estrutura
Raízes profundas
Mas , de muitas rachaduras

Feito sol que vem e vai
Feito esfera , ciclo eterno
Passado que sempre volta
Minha vida se perde , se esvai

Futuro e presente
Clamam pelo passado toda hora
Pleiteia o fim das mudanças
Passado vivo , passado latente

Evolução e história
Destroem o passado
Que revive em música
Nas lembranças do sonhador está sua glória

09/06/06